A Saga da Autoescola - Cap. II

Previously on "A Saga da Autoescola"...

Nosso herói decide fazer uma autoescola e finalmente dominar a arte de dirigir.
Porém ele não estava preparado para o que o destino havia lhe reservado.
A autoescola mais barata da cidade também era a mais escrota. A mais imunda. A mais desgraçada. Dominada por espíritos ruins tal qual o Overlook Hotel.
E agora nosso inocente herói deverá cumprir com o prazo de um ano imposto pelo DETRAN para retirar sua habilitação.

Será que ele vai conseguir? Será que essa autoescola maldita irá colaborar?

Veremos no próximo capítulo... Mesmo já sabendo de grande parte das respostas.

Após aceitar o contrato imposto pela autoescola, decidi ligar e marcar minhas aulas teóricas para finalmente iniciar o que deveria ser um curto processo de aprendizagem automobilístico.

- Olá amável secretária da autoescola. Gostaria de marcar minhas aulas teóricas e...

- Olha só, nêm... Já te falo que só tem disponibilidade pra daqui a duas semanas.

- Mas... o.. que? Moça, só quero assistir uma aula, não retirar uma pedra no rim. Sério isso?

- Sim. A autoescola tá meio... lotada.

Desliguei o telefone, novamente inocente, garoto, moleque arteiro. Ignorei o significado da palavra "lotada" pois ninguém em sã consciência lotaria uma escola daquele tamanho, com capacidade para 25 alunos no andar superior e apenas 2 carros que, pela idade, também poderiam ser alunos da autoescola. Isso feriria todos os preceitos administrativos que tanto estudei, denegriria a imagem do negócio, desrespeitaria os clientes e sujaria o nome dos gerentes na praça.

Pra pessoa fazer algo do tipo, só sendo muito filho da puta.

E, duas semanas depois, fui para minha primeira aula teórica.

Estava atravessando a rua e vi um aglomerado de gente na frente de um estabelecimento. Mas um monte de gente mesmo. Tipo, uma caralhada de pessoas na frente de uma lojinha. Fenômeno parecido com jogar uma barra de chocolate num formigueiro.

"Vai ver que alguém tá dando doce por aí" - pensei, na minha infante mente.

Andando, fui tomando consciência do que estava acontecendo. A cada passo, meus olhos arregalavam mais e meu coração batia mais rápido. E o arrependimento... Esse estava começando a se fazer presente.

O estabelecimento lotado de pessoas, tal qual fila de caixa do restaurante popular ou do aniversário do Supermercado Guanabara, era minha autoescola.

A Linha 2 às 18h não era NADA comparada àquilo

Provando que na última encarnação eu fui o Ultimate Campeão Galático de Chutadores de Macumba Hors Concours, essa autoescola, além de ser meio sucateada, havia feito a pouquíssimo tempo uma promoção num grande site de compra coletiva. O resultado foi o brusco acréscimo de aproximada de 350 alunos ao seu leque. 

Trezentos. E. Cinquenta. Alunos.

Como havia mencionado, havia uma sala de aula que comportava 25 pessoas, dois banheiros (piores que banheiro químico no último dia de Carnaval) e dois carros à la Flintstones.

Simplesmente não havia como dar certo.

Respirei fundo, já prevendo que seria todo dia assim. E, infelizmente, não estava errado.

Não irei entrar em detalhe nas aulas teóricas, pois nelas eu dormia, ficava jogando ou conversando com o professor do lado de fora enquanto algum vídeo rolava. 

Embora alguns eventos interessantes tenham acontecido...

Num determinado dia, a turma estava muito entediada e reclamando de como os vídeos sobre legislação são chatos (não posso opinar, nunca assisti a nenhum deles). Então, nosso amado professor que em absolutamente todas as aulas estava completamente bêbado tal qual Mussum em seus gloriosos dias, decidiu passar algo mais... hardcore.

Um vídeo de treinamento dos bombeiros em acidentes graves no trânsito. Sem cortes ou censura.

Deixarei uma imagem que, ainda que censurada, vale por mil palavras.

Aquele vermelho era o joelho de um cara prensado por uma Kombi

Em outro determinado dia, um instrutor havia se recusado a dar a primeira aula prática para um aluno (gordo) pois estava chovendo muito. Teoricamente não fazia sentido mesmo dar a primeira aula de direção para um aluno gordo na chuva, pois devido ao fato do mesmo ser gordo, havia a iminente possibilidade de seu peso medido em arrobas atrapalhar a aerodinâmica do veículo em pista escorregadia.

Os alunos já estavam em polvorosa e se reuniam no hall da luxuosa instituição educacional-automobilística a fim de observar o burburinho que se alastrava pelos corredores imensos do local. A dona da autoescola interviu (essa chamada Mara, apelido carinhoso de Lucimara ou algo do tipo) e começou a discutir que quem mandava no estabelecimento era ela e a otoridade pra dizer quem poderia ou não ter aula era unicamente elazinha.

Não sei muito bem o rumo que a discussão tomou, mas o professor simplesmente tascou uma cusparada daquelas na cara da Mara. Juro por Deus que o tempo correu em câmera lenta junto àquele amontoado de saliva e catarro, fazendo com que a colisão no rosto da pobre Francismara fosse mais impactante e chocante do que realmente foi, tal qual a colisão de um asteroide na Lua, criando mais uma cratera na moral já ferida da que outrora se fazia otoridade.

Eliomara, chocada após receber o impacto salival do insubordinado professor, tascou-lhe um tapa na cara à la novela do SBT. Com pose. Com estilo. Com bastante barulho. Acima de tudo, com ódio.

A partir daí, o marido dela (um PM que poderia ter sido figurante no "Tropa de Elite") se meteu no meio e a porrada estancou fortemente. Há boatos que ele sacou a arma, mas enfim... Não posso afirmar nada.

Sobre a sala de aula... Bem, agora um poema.
Era uma autoescola muito engraçada
Não tinha mesa, não tinha nada
Ficar sentado era uma agressão
Cadeiras não tinham encosto não
Mas era arrumada com muito esmero
Para vários bobos pés-de-chinelo 

Era esse o nível

No fim das contas, consegui assistir a todas as aulas teóricas em cinco meses. Perdi muita paciência, sanidade e cálcio nas vértebras. Restavam apenas sete meses para tirar a habilitação.

E o inferno estava apenas começando.

No próximo capitulo contarei sobre minhas aulas práticas. E aí sim... Aí sim tudo fica interessante.
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4 comentários

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Ehg Lima
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15 de outubro de 2013 às 18:09 delete

Lembrem de COMENTAR <3

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Filipi Kamui
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15 de outubro de 2013 às 18:23 delete

muito bom cara, a prox parte é a mais legal rs

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Maíra Mello
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16 de outubro de 2013 às 21:32 delete

Se eu já tinha medo desse lugar chamado "autoescola", depois desse post acho que nunca mais quero aprender a dirigir.


Obrigada.

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Gabi Ribeiro
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27 de dezembro de 2013 às 11:30 delete

"pois devido ao fato do mesmo ser gordo, havia a iminente possibilidade de seu peso medido em arrobas atrapalhar a aerodinâmica do veículo em pista escorregadia."
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk tu é muito engraçado brother rs

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